Notas de Desvelo

Hoje estive no centro da cidade caminhando para cima e para baixo, posso dizer que foi um dia, um tanto quanto, corrido. Mas foi na volta que algo me surpreendeu...
Estava eu no ônibus voltado para aconchego do sofá, onde eu passaria o resto do dia em um profundo e desesperador tédio, pois minhas aulas no curso acabaram; quando um homem entra no ônibus, este com uma voz que ecoava nos ouvidos e criava cochichos entre os cantos do mesmo, dizia sobre uma princesa de algum lugar... O ônibus balançava e ringia; algumas pessoas cochichavam e outras riam. Entre tudo isso, eu não entendia nada, somente podia pegar pedaços da conversa: Ele falava sobre uma tal princesa, que falou sobre um tal de holocausto negro... e que ela, por ter anunciado isso, teria morrido 1 mês depois. Ele também dizia que ela havia cumprido sua missão, e que as pessoas de nossa época estavam “acomodadas”, em quanto essa morreu para anunciar esse tal holocausto... A todo custo eu tentava ouvir o que ele falava, porem os passageiros sorriam e cochichavam sobre ele, alguns torciam o nariz em sinal de reprovação, julgavam-no um velhote louco sem nem ao menos entender o que ele falava. Um outro passageiro também estava ao seu lado, e era para ele que o velhote louco diria as palavras, mas quem deveria ser o ouvinte apenas resmungava e de certa forma o ignorava. Mas incansavelmente o velhote argumentava sobre a coragem da princesa. Ao passar de alguns minutos até eu comecei a pensar que ele realmente não passava de um velhote louco. Contudo, algo sempre me intrigava, apesar de não entender exatamente o que ele dizia, pude notar que ele sempre tinha argumentos e em hipótese alguma se embaralhou. Isso realmente me deixou curioso. Então, começou a falar sobre o descobrimento do Brasil e sobre a discussão dele não ter sido descoberto, já que aqui havia índios antes dos Portugueses terem chegado. E dava detalhes sobre certas questões...
Após alguns minutos, apressadamente ele levanta e da o sinal de que iria descer, e começa a falar mais rápido na intenção de não deixar o assunto por metade, embora o verdadeiro ouvinte o ignorasse; os outros cochichavam; apenas eu, a principio, o ouvia. O ônibus parou e abriu a porta e ele desceu. Lá fora, sorridente, caminhou olhando para frente e foi em direção a seu destino...
Fique surpreso, pois percebi que ele realmente sabia do que falava e que não eram apenas palavras criadas por uma mente insana. E que talvez, ele fosse mais inteligente do que muitos que estavam no ônibus...

Talvez ele não fosse um velho tão louco assim!